Essa é uma reflexão sobre a correria e mais uma capacidade humana incrível que parece que está ficando pra trás.
Enquanto a gente quer ter voz, quer falar o que pensa, mostrar o que temos para oferecer ao mundo, dizer como nossas ideias são legais e somos diferentes (ou iguais?), simplesmente, paramos de escutar.
Isso é muito sério e afeta todas as nossas relações.
Cara, já senti em várias situações da minha vida, em contextos completamente diferentes uma mistura de raiva e frustração por que:
- Não consegui ganhar de alguém importante para mim, para falar de algo importante; ou
- Não consegui manter minha atenção em alguém que tinha algo importante para falar.
Estou destacando a palavra importante porque é mesmo isso.
Vou contar uma história:
Uma vez, a Amora, minha filha mais velha, estava bem aflita. Era 2021, ainda na pandemia, e ela com 10 anos (sendo praticamente um ano inteiro dentro de um apartamento) tentava conversar comigo para falar de alguns problemas.
Eu escutava minha filha e quase que automaticamente já oferecia uma solução bem prática que resolveria tudo que ela precisava, afinal de contas, o problema de uma criança só pode ser pequeno perto do que o adulto passava naquela altura, embora tentasse deixar tudo sob controle.
– “Pai, você não está me escutando.” A Amora me disse.
Mais uma vez continuei a dar conselhos e a dizer que aquilo era pequeno, simples, fácil de resolver. Eu era positivo, e já trazia a solução.
Acontece que para ela não era assim.
A Amora queria ajuda. Mais do que isso, ela precisava ser escutada, e mais ainda, ela precisava que a família se colocasse no lugar dela e entendesse tudo que estava se passando. Ela chorava muito, ela soluçava, clamando pela a ajuda da família, que não conseguia alcançar o que ela dizia.
Foi quando me dei conta de que realmente eu não conseguia me colocar no lugar dela, e de que aquilo era muito, muito importante.
Então nos abraçamos e ficamos assim por um longo tempo, deitados na rede, enquanto ela finalmente se sentia (e estava sendo) acolhida. Ela foi se acalmando e eu fui aos poucos sentido o quanto eu estava distante dela apesar de achar de sempre ter achado o contrário. Foi um momento realmente mágico.
Avançando para 2024, a Amora está super bem e tem nos ensinado muito, até porque ela é uma Psicóloga Mirim, como ela mesma diz, e como nós mesmos acreditamos devido à sua empatia e sabedoria.
Mas o que quero dizer com essa história é que embora estejamos aparentemente perto das pessoas, essa proximidade não é uma garantia de atenção.
Para mim serviu como uma grande lição, e de lá pra cá tenho observado muito o quanto a atenção está ficando escassa tanto nas famílias como em TODAS as relações, entre amigos, casais e no trabalho.
Por isso, deixo essa reflexão, novamente:
Pare para escutar.